segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

dossiezim piquininim – um general







entreolham-se uns pardais.

está distendido o flanco do gato esmigalhado pelo caminhão de lixo.

essas formigas não respeitam nada.

e.

mas o caminhão de lixo? tão lerdo, pegar um gato, bicho tão sabido.

é.

pegou.

pise essas formigas.

mas as senhoras, tão lerdas, pisar formiga, bicho tão tão.

e entreolham-se uns pardais.

arre égua.

arre égua.


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

dossiezim piquininim – do ratinho, tadinho



constante e desdobrável a tristeza 
a carinhosíssima, cândida,

a que enreda a incisiva noite
entre o ratinho e o queijinho na ratoeira.







Julinha D.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

dossiezim piquininim - do peixe, inquilino




   Quando o momento incisivo, o peixe, insolúvel na ideia mar, investigará: ADIANTE, O AR, O HOMEM, O FOGO. ADIANTE. EU, POR DENTRO, MINHA ESPINHA, PARA FORA, NA AREIA, QUASE INDO O MAR, ESSE MAR DO ENTÃO, DESERTIFICADO. 








   Julinha D.

sábado, 7 de julho de 2012

dossiezim piquininim - do polvo, coitado




O polvo alarga-se para todos os lados. O polvo quer encontrar seus ombros para tê-los sob a cabeçona mole, coitado. O polvo vive à cata da bestagem e nem sabe, coitado e borbulha: Bosta, que bosta!
 

Julinha D.

sábado, 3 de dezembro de 2011

dossiezim piquininim - do gafanhoto




Tano véia a porta faz barui de gafanhoto em ventania, e os gafanhoto, doladifora, caino as hora, faz barui de fechadura dotro dia.

Nelson. G

terça-feira, 9 de agosto de 2011

dossiê primeiro dos elefantes pequenos

detalhe do safári íntimo

Espião humilde.
Reforço ao caráter dos tão poucos que o vêem.
De vida fina e enrugada tranqüilidade.
Conduz e se deixa conduzir pela eternidade.
Vai aos pólos e não chega.
 poucas flores sobrevivem à sua leveza
 namora lento os prédios, as vielas e os penedos
e acha bom o degredo de trombar
tromba o inteiro do tempo
tromba a fantasia gerada na penúria,
a crença de que é boa tanta feiúra
É ímpio. É casto. É basto.
Silencioso
É o elefante
 o espião da humanidade.
(Carla Diacov)



nasce um elefantinho que pequeno é para o resto de sua vida. Sua vida é a infância de todos os elefantinhos, depois a sua, como a que se desenha pelas costas pelos homens pequeninos. Um elefante grande está morto, uma grande memória infantil que infla, contorna e caminha, até esquecer-se. Portanto demora-se. O grande elefante demora. Esquece-se e se vai, anos póstumos, algures, a lugar nenhum,como os edifícios esquecidos pela auto-estrada, de corpos enormes, ao lugar nenhum. Nasce um elefantinho que pequeno será, solitário será, desprovido será, pelo resto da vida. O elefante pequeno tende a ser cria única, pródigo, de rodeado pelos grandes elefantes. Os elefantes grandes são os que estão mortos, umas memórias das infâncias, de todos os elefantes, dos desenhos pequeninos concebidos pelos homens. Então, os grandes elefantes são tolhidos pelo ar (este que impediu-nos de sermos eternos) enquanto que a auto-estrada se continua, e há demasiados elefantes e edifícios para o esquecimento.
Há em cavernas e grutas os elefantes desenhados à parede, perfilados, aparentes. Cavernas e grutas enormes estão mortas, estão repletas de elefantinhos. E a memória grande soerguida, infantil, até que a auto-estrada, a lugar nenhum.

Nelson G.




sexta-feira, 6 de maio de 2011

dossiê do choro duns bichos I






Percebe-se que quando a baleia chora, por exemplo, dá ao mundo esse bicho um exemplo dignificante de aleluia. Sim vizinha, a baleia chora em aleluias. Trata-se de agudíssimos lamentos na linhagem pseudo-gregoriana a despeito das profundidades da vida profunda-marina-profunda-meu-bem. Inda a coisa de que a baleia é o único bicho a derramar choro para cima torna-a realmente irritante aos outros choros de bichos mais situados a tal gravidade terrestre. Os golfinhos tentam e param exatamente aí, não chorando (daí os pulos imitando e invejando as lágrimas das baleias).
Os ursos polares choram pequenos cubos brancos que não devem ser confundidos com os pequenos e doces brancos cubos chorados pelas xícaras.
Há quem diga que alguns tipos de pássaros e quem há que diga diz dizer que há de ser a grande maioria, portanto, há quem diga que a maioria dos pássaros chora as próprias penas, fato este ainda a ser comprovado (o do choro em penas e do de quem há que diga, visto que o povo só sabe falar. Chorar que é bom, ninguém chora o caluniado crocodilo).
Os caramujos e lesmas choram rastros.
Suricatos choram agachados, camelos choram poeira, tartarugas gigantes choram pedras e a boa e velha hiena chora de rir, especialmente ao ver chorar uma anta de bosque ao ter que o bosque, lugarzinho batuta e lar dos os passantes, namorados, garis desocupados e tarados ocupadíssimos, é o único lugar da história da evolução a saber: dada a meia-noite de todos os dias ímpares dos anos pares, lobos, lobinhos e lobisomens uivam de tanto chorar a desgraceira que o Tio Darwin piruetou aos bichos embaralhando a tal cadeia alimentar, maior absurdo embaralhado na história da evolução da fome, fome esta a ser outro documento a ser vistoriado aqui pela vistoria oficial dos dossiês dessa tipajem de ser. Nós nos cabelos do bicho? Sim vizinha. Nós nos cabelos do bicho e do caduco Darwin e aleluia!

Adendinho Animal a:

Choro baixinho só em saber que nesse primeiro dossiê do choro duns bichos temos pelo menos dois tesouros que são o BICHO.
Esse: nunca o termo CADUCO foi usado com tamanha propriedade!
E esse: nasce aqui o novo dito popular a desmentir um cafona calunioso. Eis-o: CHORAR QUE É BOM, NINGUÉM CHORA O CALUNIADO CROCODILO.
Chorando e chupando manga ou não, eu sou o cão, vizinha! O cão!

Adendinho Animal b:
 Esperneio chorando só em saber que o Ésquilo anda escondendo o ouro do populacho, visto que não comuna nem quebra conosco seus castanheiros dossiês, coisa perigosíssima podendo ser esclarecida mais adiante, quem sabe, no bem-em-breve futuro DOSSIÊ DO ESQUILO QUE, CHORANDO, VOMITOU O PRÓPRIO CORAÇÃO NO MEU POTE DE RAÇÃO. (yãmi!)


Julinha D.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

dossiê do bicho xícara









Coitada, a xícara já nasce capenga do vôo. Dão-lhe uma asa só e de uma asa só a xícara cresce suas funduras em tristezas.  É de doer tanto no coração de quem a vê que esse quem-a-vê oferta à xicrinha mocha aromas em líquidos com quenturas em ranchos dum subentendido conforto. Tem sim, vezes em que esse mesmo quem-a-vê usa da ingenuidade da xícara para fins quase econômicos, enche a coitadinha de moedas sem tanto valor e parafusos sem usos e alfinetinhos e clipes e grampos e poeira e, quandosim-quandonão, o quem-a-vê entope a mono-asa com as porquinhas dos parafusos sem usos, fato que, de uma forma um tanto exaurida do chá, alegra a bichinha xícara pois a coloca mais próxima do termo e lance animal. O acasalamento dá-se por total conta da fêmea visto que o macho, além de ser raso em obstinações, encontra-se em outra categoria, a PIRES-PRATOS-PRATINHOS-E-SUPLÁS. As xícaras floridas não sobrevivem aos armários; carecem de ar e sol frescos (como estamos falando de bichos é primordial que réstias do assunto sejam devidamente claríssimas. Uma delas: quando fala-se em frescura, no caso ‘carecem de ar e sol frescos’ acima, não devemos nunca usar de leviandade confundindo o termo com confusões sexuais, digo, fresco não é bicha na categoria BICHOS, a não ser, é claríssimo, no caso dos veadinhos e golfinhos exibicionistas.). As chinesas estão em fase de extinção e a xícara japonesa tem a asa tão pequenininha que o milenar ritual de tentar enxergar a asinha fez dos olhos japoneses esses pedacinhos apertadinhos do horizonte. As vizinhas sempre vão pedir açúcar. As psicodélicas exalam cogumelos e não freqüentam o evento água+esponja+detergente. As alcoólatras moram nos guarda-roupas, de ponta-cabeça e no topo das garrafas de destilados. Tem também as desgraçadas, condenadas xícaras ao estranho ritual de choque de temperaturas chamado FAZER GELATINA onde, numa nada macarrônica traição por parte das chaleiras, são escaldadas em cores de extraordinário e literal mau gosto e aprisionadas em claustros polares. É quando a xícara, bicho nascido para ser bicho nascido de elegância britânica, trinca e duma asa só, almejando um porcenalato céu, sofre a pior tortura que pode sofrer tal criatura: é, forçosamente, regenerada pela super-cola, o Diabo desses bichinhos côncavos e de trejeitos mineiros.

Julinha D.



sexta-feira, 18 de março de 2011

dossiê das girafas, não há uma



Uma girafa nunca há. Estas, assim, consentem-se a designações entre si pelas alturas: entre os gêneros e para o líder. O macho parece-se com o humano que ama, sendo de maiores corpos que a fêmea. A proteção. Despenca-se muito amor para reconhecer o mais alto entre as girafas: é difícil sentir-se protegido quando se possui dessa altura. Protege um grupo de girafas aquele que quer olhar a todos os lados. O humano possui mais vértebras que a girafa. É arriscado ventar, deve haver sempre o macho que ore arrependido aos céus. O corpulento macho inocente. A girafa deve permanecer iludida e é curiosa: despenca-se muito amor para desenhar uma girafa: crianças e senhorinhas de bem, entretanto, fazem-no com propriedade. Pois é difícil sentir-se protegido quando o vento, curiosamente, deserta-se: há de voltar – dizem.
As girafas pastam ou recolhem águas na posição dum cachorro que brinca: abaixam sobre abertas as patas frontais e alegram-se. O pasto e as águas são elementos para a ilusão: as girafas aparentam humanos que amam.
Sobretudo, este fato insistente, verdadeiro: a girafa é um animal doméstico. Todavia, desvia-as de nossos quintais a improvável paciência. É necessário ter demasiada paciência para as coisas que ocupam demasiado espaço. Despenca-se assaz amor para se criar a girafa: crianças e senhorinhas de bem, conquanto em idades inapropriadas para despencar paciência aos homens, tomaram-nas por desenho. Amáveis, assaz – dizem.



Nelson G.

quinta-feira, 10 de março de 2011

ao dossiê dum milhão de mulas



Sobre as mulas. Gosto delas, tenho certa admiração quase sem carinho. Quase sem carinho porque a mula tem mais de mineira do que a vaca, por exemplo, e não deixa muitos espaços para se entrar o carinho.
Mulas não são como os bodes, são boas e pacatas, mas são, sim, de medida paciência. Já os bodes têm por inventar forma de o homem temê-los. As mulas são caprichosas.
Mulas não têm nos olhos aquela coisa pacienciosa e clara que existe nos olhos da vaca. De uma vaca pode-se saber o todo olhando para os olhos. Duma mula, para se saber, tem de se olhar ao perfil e esperar.
Esperar porque ela levará sabidos minutos para ceder o soslaio. E, de uma mula esguia olhando-nos em soslaio, sabemos o tudo. Sim, a personalidade de uma mula é perfilada; uma mula de frente é não além de um bicho assemelhado a um cavalo de paciência por se acabar. Uma mula de soslaio observa-nos, ao que deve, pois, ser o preciso feito para observá-la. A vaca é humanizada, e a mula é personificada. Veja que a vaca é uma senhora, sempre a mesma senhora, todas as vacas carregam no debruçar dos olhos e na curva da boca a mesma senhora (todas as senhoras carregam nos traços a mesma senhora?) - daí a humanidade da vaca - ou a coisa materna. A mula é uma espécie feminina e é o certeiro mote da espécie que é feminina - sendo sempre uma outra coisa feminina de que não se pode dizer onde traz a semelhança com as demais - mesmo esta, a semelhança, havendo clara - daí a personificação - ou a coisa que não tem filhos e, portanto, que não se pode aparentar humana nas idades.
Pode-se, facilmente, confundir uma mula com um cavalo. Não com uma égua, nunca com uma égua, que trata de outro vasto departamento. E, quando se confunde uma mula com um cavalo, ela porta-se como tal, até persistindo na aproximação. Compadecemos da mula como compadecemos do cavalo que carrega um desavisado semblante masculino (este também com humanidade, porque os cavalos são sempre, de traço, de olhos e de quadril, o mesmo homem). A mula pode te ceder uma inteira cavalgada quando se acha que ela é um cavalo. E, se dermo-nos conta da mula ser uma mula a esta altura, ela desonra-nos. Há o risco duma mula amedrontar um indivíduo numa certa ocasião descuidada: se se aproxima da mula acreditando ser um cavalo e der por conta de ser mula no preciso desfecho dela lhe estar de soslaio - à rara fenda de sua personalidade - ela vai ameaçá-lo e espantá-lo em irrefutável desonra. Um indivíduo desonrado por uma mula leva cerca de quatro dias para retomá-la ao bem do estado comum de pasmaceira. Durante os quatro dias, a mula mantém-se incapaz de parecer cavalo e pratica no indivíduo um distanciamento forçoso - nos quatro dias ela preserva hábitos assemelhados aos do bode.
Toda mula traz características virginianas.
A mula não é teimosa, é correta e metódica, paciente e sabida, tendo demasiada propriedade daquilo que pratica.
A mula parece teimosa até que entendamos o que há de seu feminino a guardar-se de masculino.
Ao contrário dos cavalos, as mulas não esticam os olhos docemente ao horizonte quando correm, as mulas olham para perto. Isto porque não podem esperar filhotes.



Nelson G.

dossiê dum milhão de mulas



Um milhão de mulas tristes purgam feridas.
Um coração adormece, um outro se esconde do sangue, 999.998 comem da longa alameda de um só coice na paisagem. Por necessidade de depuração que só a ata depurada faz-se ao necessário do bicho.
Porém antes da necessidade prática, faltará amplidão ao que é necessário:
Reter caminhos, vozes e dores rentes e poentes. É a carga. A carga.
Quem vê de perto os olhos de uma mula de carga
vê também todo o resto do mundo se despedaçando em palhas queimadas e queimaduras-palhas e paúras tantas: A carga.
São olhos de uma saudade cheia de hematomas no quentume.
Olhos que piscam com a mesma velocidade da palha despedaçada em mundos e paúras já em método de cinza abrasada em queimaduras tantas insistindo o pirilampear no céu, não quer cair, não se entrega, não apaga o pairar.
Olhar delicado, trinco dum sono, trincada porcelana de mau gosto do sal atirado pelo vento.
Uma mula é um antitemplo onde as orações também são mulas e a resignação, por conhecimento e encampação, é o único esquelético milagre no pico e no sopé do que seja milagroso;
na mula até o milagre precisa de um milagre porque a carga. A carga.
A mula foi condicionada a não ver estrelas nem borboletas muito embora saiba e force um ignorar (tudo num mesmo tempo que é o tempo de mula, tempo cargueiro em mesmices) isso de que elas sim, as borboletas e as estrelas a vêem, a perseguem esbanjando levezas, cardume puritano de rastros de grandezas que longe e que longe.
Mulas não sentem flores nem picadas de abelhas e no lugar nu de em sentir, sentem um do que como se fosse esse sentir, como se pisassem com a língua e andassem com o vago e sendo isso e dessa maneira, mulas não sabem do capim o sabor que ruminam e às vezes nem se enfrentam do ruminar o mato ruminando o tanto de chistes que o destino lhes picam feito picão ferrado de abelha em flor.
Seus Senhores raspam-lhes as feridas com cacos de telha, já que alguém disse que telha é cicatrizante, mas só pra mula, esse bicho quiromante. O Sol e o Sal completam o curativo.
E eis que as mulas cantam, Meu Pai!
As mulas, na madrugada do sertão, nas pequeníssimas matinas argilosas cantam pedras, poeira e a reta dos homens. A carga.
Dizem que essas árias flutuam feito torpes orbes, ararinhas faiscantes e então explodem em sequiosos flocos de um sertão em algodão que tem a pele à pele e da pele reza o chão,
eterno namorado da mula, bicho menos ativista que eu já vi.



Julinha D.